sábado, 6 de junho de 2015
GUERRA E POLITICA - LIVRO DO GENERAL KAÚLZA DE ARRIAGA
Depois de vários meses de total ausência de escritos, num livro que me foi emprestado por um amigo, encontrei algo de interesse para todos aqueles que viveram em Moçambique, e não só.
O autor deste livro é o General Kaúlza de Arriaga, cujo titulo principal é: GUERRA E POLÍTICA, e os sub-títulos, são: EM NOME DA VERDADE, e, OS ANOS DECISIVOS.
Algumas passagens desta narrativa são transcritas do próprio livro, evitando assim confusões e deturpações.
Os capitulos com maior interesse, entre outros, são:
FICAR, SAIR OU FUGIR DE ÁFRICA - O PROBLEMA DA ÁFRICA PORTUGUESA
O PERÍODO PRÉ 25 DE ABRIL
OS RESPONSÁVEIS
UM MEIA CULPA HISTÓRICO
QUATRO DOCUMENTOS ENVIADOS A SALAZAR
ALGUMA CORRESPONDÊNCIA COM MARCELLO CAETANO
CONFLITO ADRIANO MOREIRA / VENÂNCIO DESLANDES
REMODELAÇÃO MINISTERIAL DE 7 DE NOVEMBRO DE 1973
O LIVRO PORTUGAL E O FUTURO - UM LIVRO INCOERENTE
A PASSIVIDADE DO GOVERNO - A CUMPLICIDADE INCONSCIENTE
AS GRANDES IDEIAS DESPERDIÇADAS
A DESTRUIÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS
Neste livro fica-se a saber tudo o que se passou na preparação da revolução do 25 de Abril de 1974, dos avisos ao Governo de Salazar e Marcello Caetano do que se preparava, e que em grande medida "caiu em orelhas moucas".
Afinal, parece que não houve apenas um "traidor à Pátria"... Disse-se e escreveu-se , e houve até um processo judicial, por se ter afirmado que Manuel Alegre foi um "traidor à Pátria", porque enquanto no seu exilio voluntário em Argel, ter passado "bastas informações" aos grupos de guerrilheiros que combatiam as Forças Armadas Portuguesas nas "nossas" ex-Colonias, informações essas que poderão ter provocado centenas de mortos e feridos aos militares portugueses.
Mas afinal não terá sido só ele, terão havido muitos outros, inclusive, alguns governantes de Salazar e Caetano, alguns Generais e muitos capitães.
Tudo isto é explicitado neste livro, onde os nomes de alguns militares e governantes não deixam de ser indicados. Um desses, não posso deixar de o dizer, foi o sucessor de Kaulza de Arriaga como Comandante Chefe das Forças Armadas de Moçambique, o General Costa Gomes, que em função das suas acções de antes e depois do 25 de Abril, poderá tambem receber o epíteto de "traidor à Pátria".
Há também cópias de cartas, ofícios, memorandos, mensagens enviadas a Salazar e Caetano, Presidente Américo Tomaz e outros Ministros destes Governos, e as respostas dos mesmos, onde são tratados os assuntos respeitantes à guerra que se combatia, e onde, em algumas destas missivas, se faziam avisos do que poderia vir a acontecer, e aconteceu... o "25 de Abril de 1974".
Vamos pois fazer aqui alguns apontamentos contidos neste livro. Como porém alguns são extensos, vou tentar resumi-los.
Página 47 : O PROBLEMA DA ÁFRICA PORTUGUESA
Cito: "A intenção e objectivo do Governo em 1961 e em 1974, era a "intenção" de ficar nestas ex-Colónias", (fim de citação),e nunca o de deixar para trás o muito que foi feito naquelas ex-Colónias de grande dimensão e que muito engrandeceu aqueles novos Países.
Esta "intenção" incluía uma auto-determinação autêntica em Moçambique, que só seria atingida nos anos de 1980 / 1990.
E concluiu que, "QUAISQUER ATITUDES E ACTOS DIFERENTES DESTES SERIAM, EM 1961 E FORAM-NO EM 1974, APENAS DE "TRAIÇÃO À PÁTRIA".
Página 61 - O PERIODO PRÉ-25 DE ABRIL - O 25 DE ABRIL - A RESPONSABILIDADE DOS GENERAIS
A 31 de Julho de 1973, o General Kaúlza de Arriaga terminou o seu mandato de Comandante Chefe das Forças Armadas de Moçambique, tendo regressado à "Metrópole" em principios de Agosto de 1973.
Antes porém, na segunda quinzena do mês de Julho de 1973, soube-se estar em preparação um movimento golpista revolucionário a levar a efeito por um grupo de capitães. Um movimento que começou como reivindicações profissionais, mas que de imediato se politizou e transformou no "Movimento das Forças Armadas." ALGUM TEMPO MAIS TARDE, tendo o General Kaúlza de Arriaga, por iniciativa própria, contactado o tal grupo de capitães, fazendo-lhes vêr da responsabilidade do acto, dizendo-lhes então que os GENERAIS assumiriam as suas responsabilidades.
Em 14 de Setembro de 1973, foi o General Kaúlza de Arriaga convidado para um almoço, no qual tambem estavam os Generais Venâncio Deslandes, Fernando Resende e António Spínola.
Estes 4 Generais após terem feito uma análise aprofundada sobre a situação na "Metrópole", com perigosas consequências para o Ultramar, e da possivel incapacidade do Governo para a enfrentar, decidiram tomar uma acção mais drástica.
Foi pois acertado nesse almoço, ser de todo "aconselhável" a substituição rápida dos governantes por outros capazes, dotados de autoridade, mais força actuante e grande capacidade realizadora.
Teve pois lugar uma acção de concertação de "intenções" de Chefes Militares, em exposição franca leal e respeitosa ao Ministro Marcello Caetano, e depois ao Presidente da República, Américo Tomaz.
Quando o General Kaúlza fez saber ao grupo dos Capitães, organizadores do "Movimento dos Capitães", que os "Generais assumiriam as suas responsabilidades", a resposta dos Capitães ao General foi positiva, aparentemente, mas exigindo que entre os Generais deveriam CONSTAR OS NOMES DOS GENERAIS COSTA GOMES E ANTÓNIO SPÍNOLA. A partir daqui a ligação destes dois Generais ao MOVIMENTO DOS CAPITÃES, ficou clara.
Segundo o General Kaúlza, o General Spínola poderia não causar grandes problemas, mas Costa Gomes era de repudiar por razões que mais tarde vieram a confirmar-se. As pressões que Costa Gomes terá exercido sobre Spínola, estará a explicação da ATITUDE NEGATIVA por este tomada na reunião definitiva e possivelmente salvadora, que teve lugar nos PRIMEIROS DIAS DE DEZEMBRO DE 1973, em casa do Dr. João Costa Leite (Lumbrales). Nesta reunião, e para surpresa de todos , o General Spínola, declarou que "não desejava trabalhar com os outros Generais,""e que ele faria, sozinho, com a sua gente e quando o entendesse, o seu 28 de Maio".
Não se entende, nem se entendeu muito bem, porque Spínola não quiz alinhar com os seus camaradas Generais, e acabou por alinhar numa acção de força, com os seus insubordinados capitães de "25 de Abril".
Talvez realmente tudo tenha sido trabalho eficiente do General Costa Gomes.
A COMUNICAÇÃO DO MAJOR CARLOS FABIÃO
No dia 17 de Dezembro de 1973, o Major Carlos Fabião fez uma comunicação ao seu curso, dizendo aos seus camaradas que havia sido detectada a preparação de um golpe de Estado de "extrema direita", a levar a efeito por um grupo de Generais, nos quais o General Kaúlza se encontrava, e os Generais Joaquim da Luz Cunha, Silvino Silverio Marques e Henrique Troni.
Nesta declaração dissera ainda que neste golpe estava prevista a eliminação (fisica?) dos Generais Costa Gomes e António Spínola. De imediato esta afirmação foi repudiada pelos aludidos Generais.
Tratava-se de uma comunicação falsa, feita premeditadamente com a intenção de neutralizar o grupo de Generais a que Kaúlza pertencia.
No dia 03 de Janeiro de 1974, o General Kaúlza envia uma carta ao Presidente do Conselho, na qual e em vista de não ter sido aplicada entretanto qualquer sanção ou processo disciplinar ao Major Carlos Fabião, nesta carta, entre outras considerações, diz:
"nestes termos, esperei que as autoridades militares procedessem contra o Major em causa. Parecendo que tal não se verifica, solicito que quem de direito determine que seja instaurado processo disciplinar contra o mesmo Major e que este seja punido com a severidade que se impõe, à extrema gravidade da sua declaração, etc.etc."
A POSIÇÃO DO GOVERNO
Perante as ocorrências verificadas no fim do ano de 1973, a posição tomada pelo Governo, decorreu da sua incapacidade factuais, como:
E Continua: (Citação)
a) Confiança, especialmente pelo Ministro Silva Cunha, cega, imerecida e perigosa na lealdade e ciência militar, e subversiva e contra-subversiva, do General Costa Gomes.
b) Idiossincrasias que especialmente o Presidente Marcello Caetano alimentava e de que o alimentaram contra mim.
c) Apreço excessivo especialmente do Presidente Marcello Caetano e do Ministro Silva Cunha pelo General Spínola.
Apesar dos avisos, o Governo optou pelos Generais Costa Gomes e António Spínola, em desfavor do grupo de Generais, ao qual o General Kaúlza pertencia.
Este General conclui neste livro, sobre este assunto:
"O êrro foi tão grande, que muitos foram levados a admitir não poder deixar de ter estado Marcello Caetano activa e secretamente ligado ao 13 de Abril de 1961, e ao 25 de Abril de 1974, ou, pelo menos, de ter sido seu conivente passivo e oculto."
Tem este livro muitas outras passagens e episódios da guerra suportada em 3 frentes em África, as quais, especialmente em Moçambique, estaria em vias de solução. O mesmo sucederia em Angola, sendo o problema da Guiné o caso mais problemático.
Na opinião deste General, e após a "Operação Nó Gordio" em Cabo Delgado - Moçambique - a guerra nesta Colónia estaria terminada dentro de pouco tempo, entre 1 e 2 anos. Seguir-se-ia Angola, e o caso mais sério seria o da Guiné.
Com o "25 de Abril de 1974", que este Generais não conseguiram suster, deu-se o descalabro geral em todos estes Países, e ainda, em Timor, Cabo Verde e S.Tomé e Príncipe.
Só não aconteceu com Macau, porque a China recusou aceitar a independência imediata, o que se verificou ao fim de 10 anos. Foi a única Colónia em que tudo correu da melhor forma possivel.
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