quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E ÁFRICA



       OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E ÁFRICA                                       
                                       
                                                             3º Capítulo

No seguimento das tentativas falhadas dos Estados Unidos da América conseguirem demover Portugal da sua decisão de não renovar o acordo da Base das Lages e não dar a auto-determinação às Colónias, a administração Kennedy admitiu um novo programa para fortalecer os laços com a Frelimo.

O programa baseava-se em que, a auto-determinação não poderia ser ganha pelas armas, e que os nacionalistas deveriam alterar as suas tácticas de guerra de guerrilha, e montar políticas dentro e fora dos seus territórios com a "ajuda secreta" dos Estados Unidos da América.

Esta "ajuda secreta" apoiaría uma série de actividades, incluíndo programas de relações públicas internacionais, tipografias e estações de rádio clandestinas, células nacionalistas em todas as aldeias, manifestações pacíficas, e infiltração de membros nacionalistas nos quadros da Policia de Segurança Pública.

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Depois do assassinato do Presidente John Kennedy, o Vice-Presidente Lyndon B. Johnson tornou-se o Presidente  dos Estados Unidos da América, e, automáticamente quáse se desinteressou dos assuntos africanos.
Apesar desta falta de interesse, continuava a haver uma opinião no seio da administração, na intenção de continuar a ser exercído sobre Portugal, pressão em relação à auto-determinação em África, assim como para se chegar a um acordo sobre a Base das Lajes, nos Açores.  Em simultâneo pretendiam a colocação do equipamento LORAN-C em território português, para controlo da navegação marítima e aérea.

A obstinação do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Franco Nogueira, muito contribuíu para que nada do que os americanos pretendiam, fosse autorizado.

Por exemplo, em Fevereiro de 1964, quando o embaixador americano em Lisboa, Anderson, pediu a Franco Nogueira para instalar o equipamento LORAN-C, o Ministro Português disse, "" que essa atitude representaria uma enorme cooperação com um País que tinha uma política contrária aos interesses portugueses, e, como tal, porque razão deveriam os portugueses aceder aos pedidos americanos???""   Mais adiante perguntou ao embaixador:   ""já que os Estados Unidos estavam tão preocupados com a segurança do ocidente, porque razão o embaixador americano em Kinshasa dissera ao "charge d´afairs português", que chegára o momento de Lisboa começar a negociar com Holden Roberto???"
Mais, continuou o Ministro Português, ""porque dissera Mennen Williams recentemente num discurso no Canadá, "que o comunismo não tem base de apoio em África???""

A reunião terminou de forma negativa para o embaixador Anderson, com Franco Nogueira a relembrar-lhe que "Portugal estava a eliminar os riscos de perder a posição emAfrica".

Em Agosto de 1964, Rosel Gillpatrick, demitiu-se do cargo que exercia como secretário-adjunto da defesa, tendo a administração americana decidído enviá-lo em visita às Colónias Portuguesas, para ali avaliar as políticas americanas em relação a Portugal.

"" O primeiro relatório do embaixador Anderson era já extremamente positivo em relação a Portugal. Este novo relatório de Roswel Gillpatrick, não era extremamente positivo, era excepcionalmente excelente, comparativamente com o primeiro.  Para ele, Roswel, Portugal havia feito enormes progressos nas àreas de habitação, educação, emprego e saúde pública"".  Qual foi a reacção americana??? Não veio a público...

Mais tarde, o Departamento de Estado Americano deu instruções a Arthur Goldberg para se reunir em privado na O.N.U. com Franco Nogueira e os representantes africanos, no sentido de amenizar as relações de Portugal com os países africanos.
Estes países africanos puzeram como condição para esse encontro, "que Portugal aceitasse as seguintes determinações: ""Que a auto-determinação incluísse todas as formas possiveis desde a concessão imediata de independência, até à manutenção do estatuto de Provincias de Portugal;
Que as negociações incluíssem os representantes das várias organizações nacionalistas, e que abordassem não apenas o âmbito do princípio de auto-determinação, mas o método, os meios e as modalidades deste processo"".   Mediante isto, Portugal não aceitou sentar-se à mesa das negociações.

Em 1965, ""Goldberg disse à administração americana que a hipótese mais prática para a auto-determinação seria levar a cabo mais negociações mediadas pelos americanos, entre Portugal e as nações africanas, conforme pedido pelo Conselho de Segurança da O.N.U., em Dezembro de 1963"".

Tendo o plano "Anderson falhado",  foi este tambem o ultimo esforço americano para conseguir que Portugal desse a auto-determinação às suas colónias em África.

Contudo, "" nos 8 anos seguintes, a política americana em relação a Portugal, Angola e Moçambique, viria a seguir o rumo traçado pelo embaixador Anderson, no seu telegrama de despedida como embaixador americano em Lisboa, para o Departamento de Estado Americano.  Anderson disse a Rusk que pensava que "não é provável que haja qualquer alteração num futuro imediato na atitude e na determinação do Governo Português, no que respeita às províncias africanas"".

A África Portuguesa saíu então da agenda externa americana até aos fins de 1966.
Portugal resistiu à pressão do "seu aliado Estados Unidos da América", durante 6 anos, para conceder auto-determinação às suas Colónias.

""Por outro lado, Salazar parecia estar numa posição mais forte do que nunca desde o início da revolta em Angola em 1961.  Portugal tinha contido a crise em Angola, o seu isolamento na Europa fora dissipado através de vários acordos comerciais, e a economia portuguesa estava em alta"".


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Em Setembro de 1964 a Frelimo iniciou a luta armanda, e entre 1964 e 1967 conseguiu alguns sucessos em Cabo Delgado e Niassa, começando a estabelecer algumas estruturas, às quais chamavam "àreas libertadas".
A Frelimo utilizou estes seus exitos como base para conseguir apoio não só dos países de Leste, mas tambem dos Países Baixos (Holanda), Noruega, Dinamarca, todos estes membros da NATO, e da Suécia.

Enquanto isto, as relações da Frelimo com o Governo americano perdeu alguma credibilidade.  A saída de altos funcionários que Kennedy havia nomeado para seguir a política africana decidída por si, mas especialmente por Robert Kennedy, não tornava fácil fazer com que visitantes africanos chegassem à Casa Branca para se reunirem com o Presidente. Lyndon B. Johnson não era adepto de conversas em salas fechadas, e não tinha confiança nos políticos africanos.

Para suceder a George Anderson como embaixador dos Esatdos Unidos em Portugal, foi nomeado Tapley Bennet, que não veio a perturbar a tranquílidade que reinava sobre Portugal.
Bennet, numa reunião com Franco Nogueira, perguntou-lhe se o Governo Português se opunha a que a Embaixada Americana contactasse individuos da oposição.  O Ministro Português respondeu,""que a embaixada poderia ter reuniões com quem quisesse, mas que seria "inaceitável" dar conselhos politicos ou apoio material"".

""O pessoal da embaixada teve então reuniões clandestinas com pessoas oposicionistas e pessoas com Mário Soares, em jardins  em manhãs de Domingo ou em cafes obscuros a horas tardías"".
Nem a própria PIDE conseguiu detectar todos estes encontros.


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Arthur Goldberg escreveu uma carta "altamente confidencial" a Lyndon Johnson, dizendo que chegara a altura para "um plano Johnson", para o desenvolvimento económico de África.
À recepção desta carta por Johnson, ""de imediato deu uma directiva ao recém nomeado Palmer, dizendo, " o Presidente quer que seja apresentado tão depressa quanto possivel, um esquema para uma aliança africana para o progresso, envolvendo possivelmente o gasto de alguns milhões de dólares no decurso de vários anos"".

Para o Presidente Johnson, os Estados Unidos""vinham lidando com África de forma dispersa"". Estava na altura de lidar com África como um todo e reforçar tanto quanto possivel a cooperação regional.

Sob o comando de David Bell, director da AID, ""houve um esforço sincero para canalizar o auxilio através de Instituíções multilaterais de desenvolvimento, que minimizariam a percepção de que os Estados Unidos da América estavam a tentar substituír-se às antigas potências coloniais"".
Numa palavra: Os E.U.da América continuariam a "dar ajuda" aos nacionalistas africanos, através de interposta figura...

       
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Havia no projecto português para as Colónias, além das operações da Gulf Oil em Cabinda, e das minas de ferro de Cassinga, um projecto muito mais importante, a construção de uma enorme central hidro-eléctrica em Cabora Bassa, na província de Tete, Moçambique.
A electricidade produzida nesta barragem seria vendida à África do Sul, tornando este projecto de todo o interesse para Moçambique.
Por outro lado, Portugal instalaria na àrea a ser irrigada pela barragem, cerca de 1 milhão de colonos para apoio à grande agriculrura.

 Portugal convidou os Estados Unidos para participar no projecto de construção da barragem, mas tal comvite foi declinado, apesar de o embaixador Anderson, antes de deixar o seu cargo de embaixador em Lisboa, enviado um telegrama a Ball dizendo: "apoio este projecto incondicionalmente".


                                       Fim do 3º capítulo


Com o fim deste capítulo termina tambem os comentários sobre o comportamento americano em relação a Portugal durante a luta armada nas suas ex-Colónias Africanas.  O próximo versará sobre a situação portuguesa nas independências das suas Colónias e do período que se seguiu em Portugal no pós 25 de Abril de 1974.

                      

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